by YuMi DeAth

 

Capítulo 6 - Kehara Lies

Quando Harry chegou à sala de Dumbledore, ele estava meio cansado e pensativo. O diretor estava os aguardando, sentado em sua cadeira com os cotovelos apoiados na mesa. Ele os encarava seriamente através daqueles óculos meia-lua, com seus olhos azuis penetrantes. Sorriu por um breve momento, e comentou:

- Vejo que vocês encontraram a Srta. Lies no caminho, não?

- Como foi que o senhor...? - Harry iniciava a sua pergunta, mas Dumbledore acenou as duas cadeiras que estavam na frente de sua mesa, pedindo para que eles se sentassem.

Ele e Rony não haviam comentado sobre nada do que havia ocorrido no corredor; nem sequer resolveram arriscar em dizer umas poucas e boas sobre o que acharam daquela tal de Srta. Lies. Acharam que poderiamencontrar mais alguém e decidiram, comentar isso somente quando estivessem certos de que ninguém iria ouvir.

- A Srta. Kehara Lies esteve aqui na minha sala há pouco... - Dumbledore falava, enquanto os dois garotos se acomodavam nas cadeiras. - De certa forma, mandei ela procurar por vocês. Talvez, eu achei que tenham esquecido do caminho até a minha sala! - e sorriu.

- Quem é ela, professor? - Rony se adiantou.

- Bem, ela irá ocupar o cargo de professora de Defesa Contra Arte das Trevas... - ele respondeu calmamente.

- O quê? - Harry e Rony exclamaram ao mesmo tempo.

- Eu sei, ela nem parece professora, não é mesmo? - Dumbledore disse. - Ela ainda tem um jeito infantil e, à primeira vista, todos pensam que ela ainda não passa de uma adolescente, digamos que um pouco... revoltada...

Harry abriu a boca, mas foi atropelado pelas falas do diretor:

- Mas nunca é bom confiar nas aparências! Lembrem-se de que nem sempre, as pessoas são o que aparentam ser. Posso dar a minha palavra que ela é perita no assunto, e que tem conhecimento suficiente para passar a vocês.

"Eu achava que Moody iria continuar com o seu cargo, mas ao que parece, foi escalado para algumas tarefas que somente ele pode executar. Então, a Srta. Kehara Lies tinha os quesitos necessários para lecionar. Eu a escolhi..."

Os três se entreolharam, e a sala ficou muito silenciosa. Podia-se ouvir apenas alguns barulhos baixos, dos objetos esquisitos que o diretor tinha em sua sala; até mesmo todos os quadros, com as fotos de outras gerações de diretores da escola estavam quietos.

- Bem, - Dumbledore disse subitamente. - Vamos ao assunto. Acho que vocês sabem o porquê estão aqui, não é mesmo?

- Sim. - respondeu Harry. - Para nos proteger de Voldemort e seus Comensais.

Rony se encolheu na cadeira ao ouvir o nome do Lord das Trevas, mas mantinha seus olhos fixos em Dumbledore, que logo em seguida, disse olhando para ele:

- Então, quero que vocês saibam que, mesmo que Hogwarts possua todas as proteções possíveis, é necessário que fiquem atentos a qualquer movimento estranho. Esses últimos dias, antes das aulas começarem, vocês estarão sob vigilância constante de todos os professores, a meu pedido. Entretanto, não podemos ficar atrás de vocês a todo instante. Por isso eu lhes peço: tomem muito cuidado.

Harry e Rony balançaram a cabeça, concordando com tudo aquilo. Afinal, eles já deviam saber que não iriam ter as duas semanas seguintes tão tranqüilas e livres, como imaginavam. Teria sido bom demais para ser verdade.

- Bem, estão dispensados! - Dumbledore falou, enrolando um pedaço de pergaminho que estava estendido sobre a mesa que, até então, Harry não havia notado. - Lembrem-se: qualquer coisa, basta chamar qualquer professor. Todos estão avisados de suas presenças.

Os dois caminhavam em direção à saída, em silêncio, do mesmo modo que eles haviam entrado. Tentando ser os mais cautelosos possíveis para não serem notados, eles deram passos largos e silenciosos, olhando sempre para os lados e vendo se não havia nenhum professor por perto. Talvez, pelo menos hoje, eles poderiam ir visitar Hagrid em paz e passar a tarde por lá, sem ter nenhum professor pegando no pé deles.

Dirigiam-se até a orla da floresta proibida, até então, sem nenhum problema. Não se depararam com nenhum professor, e nem mesmo a nova professora de Defesa Contra Artes das Trevas. Harry respirou aliviado quando ele e Rony haviam chegado sem maiores problemas na porta da cabana de Hagrid.

Rony deu três batidinhas e, alguns segundos depois, a porta foi aberta. Hagrid já estava por lá.

- Entrem! - o gigante pediu.

Canino saltou para cima dos dois, latindo feliz. Hagrid sorriu, e dirigiu-se até a sua mesa, sentando na cadeira e apoiando os braços. Harry e Rony, após terem se livrado de Canino, logo ocuparam as duas cadeiras vazias, fazendo companhia ao guarda-caça.

- Nunca imaginei que algum dia, dois alunos estariam passeando por Hogwarts durante as férias de verão... - Hagrid puxava assunto. - Mas, enfim... Sei que vocês estão aqui sob proteção de Dumbledore... Bem, ainda mais agora, que todo mundo sabe que Você-Sabe-Quem voltou...

Harry, conversando avidamente com Hagrid, aos poucos percebeu que este não estava sabendo do ataque dos Comensais da estrada. Achou melhor; havia pensado mesmo que Dumbledore não sairia espalhando essa notícia. Se por acaso Hagrid soubesse, ele estaria desesperado em protegê-lo, olhando para todos os lados, e nem teria deixado sair do castelo para visitá-lo.

O guarda-caça ofereceu aos garotos chá com biscoitos. Ambos tomaram só o chá e mal tocaram no biscoitos; mesmo porque, além deles conhecerem bem os biscoitos dele, estavam sem fome. Tinham comido muitos doces durante a viagem no trem.

Harry contou a Hagrid a reunião rápida que ele e Rony tiveram com Dumbledore; sempre dando a entender de que nada havia acontecido com ele; não havia sofrido nenhum ataque de Comensais da Morte no meio da estrada. Em certa ocasião, Rony quase deixou escapulir, mas recebeu um chute na canela que a sua dor abafou todas as suas palavras.

- Hagrid! - Rony chamou-o, quando o gigante estava colocando mais água na chaleira para preparar mais chá. - Você conhece a.... Professora Lies?

- Lies? - Hagrid não se mexeu e continuou a despejar água na chaleira, chegando até a não desviar o olhar. - Vocês já a conheceram?

- Encontramos com ela por acaso... - respondeu Harry, depois de ter dado mais um gole de chá. - O Prof. Dumbledore disse que ela é a nova professora de Defesa Contra Artes das Trevas.

- É sim, isso é verdade... - respondeu Hagrid desanimado.

- O que foi, Hagrid? - Rony indagou. - Você a conhece?

- Bem... - ele começou, acendendo o fogo da lareira mais uma vez com seu guarda-chuva (que na verdade era sua varinha). - Eu a conheço desde os tempos que ela estudou aqui em Hogwarts... Já faz um tempinho. Acho que ela se formou uns seis anos atrás, se não me engano...

- Nossa, ela ainda tem cara de criança... - comentou Rony.

- É, não só cara, como ainda age como uma! - completou Hagrid. - Desculpem, eu não sei se vocês se simpatizaram com ela, mas eu nunca gostei dela. Acho ela um tanto irritante, e garanto que eu não sou o único que possui essa opinião...

- E não é mesmo, Hagrid! - Rony debruçava sobre a mesa. - Quando nós a encontramos, estávamos indo para a sala de Dumbledore. Aí, o prof. Snape resolveu dar umas "boas-vindas" para a gente e ela apareceu do nada depois. Sabe que ela começou a provocar até mesmo Snape? Os dois saíram de cara amarrada.

- Ah, mas ninguém gosta mesmo dela, Rony! Ela foi a aluna mais insuportável que a Sonserina poderia ter... Além do mais, nem mesmo Snape, que já estava lecionando aqui em Hogwarts gostava dela. Mesmo pertencendo à casa dele...

- E com essa raiva que o professor teve, ela resolve provocá-lo agora que ocupa o cargo que ele sempre quis!

- Rony não pode conter e soltou uma risada.

No entanto, alguma coisa que a Profa. Lies tinha intrigou Harry. Ela parecia tão fria e calma ao mesmo tempo. E o ódio que ela demonstrou pelo Prof. Snape era diferente. E ele também, expressou um ódio que ele jamais tinha mostrado a ninguém, nem mesmo a qualquer outro professor de Defesa Contra Artes das Trevas.

E porque essa implicância e insistência em pensar na professora? Afinal, ele estava intrigado com um comportamento tão inusitado em parte dela. Sentia que escondia algo mais, sentia que ela continha um segredo a qual não revelaria a ninguém jamais.

Ele tomou todo o resto do chá que estava na sua xícara e decidiu que iria esquecer o assunto "Kehara Lies". Despediu-se de Hagrid e, com Rony seguiu em rumo ao Salão Comunal da Grifinória. Talvez lá, ele pudesse jogar um pouco de xadrez de bruxo e distrair suas idéias malucas.

* * *

O resto das férias em Hogwarts poderiam ter sido melhores. Harry e Rony tiveram o castelo inteiro para se divertirem, enquanto analisavam o mapa do maroto e descobrindo as passagens secretas. Elas com certeza, poderiam ser melhores, se pelo menos Fred e Jorge estivessem ali; eles com certeza eram engraçados, provocando risos e aprontavam muito por onde passavam.

Harry e Rony ficaram uma semana para terminar a redação que Snape pediu. Eram horas e horas na bibliotecas; perdidas, somente se afogando entre os inúmeros livros de poções que se encontravam por ali.
Em certa ocasião, Rony até arriscou em pedir uma autorização para Snape, para poder pesquisar na área reservada. Claro que ele não conseguiu nem uma manchinha de tinta espirrada no papel.

- Você teve tempo suficiente de fazer a sua redação em casa, Sr. Weasley! - respondeu Snape, com seu mal-humor habitual, enquanto os garotos estavam terminando a redação na biblioteca. - Não vai ser aqui que você conseguirá terminá-la decentemente. Portanto, não darei autorização nenhuma para você se safar das notas baixas e conseguir poções que nenhum outro aluno teria em sua redação, por ser livros da área restrita!

Porém, a Srta. Lies estava assistindo a cena na biblioteca nesse dia; escondida na própria seção reservada, ela aparece entre as prateleiras e sorri para os três. Ela trazia consigo alguns livros grossos e pesados e parou bem à frente da mesa aonde eles estavam

- Eu forneço a autorização! - ela disse, atirando os livros em cima da mesa, chegando até a amassar alguns pergaminhos que estavam estendidos. A professora nem ao menos tirou os olhos do prof. Snape enquanto fazia isso. - Já que alguns professores não querem que seus alunos tirem boas notas nos trabalhos, eu mesmo os ajudo!

Snape demonstrou ódio através de seus olhos. Não abriu a boca para falar nada, e Harry e Rony estavam esperando para ver a reação dele.

Madame Pince, a bibliotecária, que estava sentada em sua mesa lá na frente, encarou-os com uma expressão séria, e chamou-lhes a atenção:

- Srta. Lies, quantas vezes tenho que repetir que biblioteca é lugar de silêncio?

A Profa. Lies bufou, e sem virar para trás e encarar Pince, respondeu, falando ainda mais alto:

- Tem razão, e como há muitos alunos estudando aqui, talvez eu deva ficar quieta. Afinal, essa biblioteca está completamente lotada e está até impossível de eu me movimentar por aqui.

- Não interessa se há muitos alunos aqui ou não! - Madame Pince respondeu calmamente, embora estivesse irritada. - Biblioteca é lugar de silêncio, e não uma simples sala de aula aonde a senhorita pode gritar à vontade e quanto quiser.

- Escuta aqui! - Lies virou-se e correu até a mesa da bibliotecária. Ela bateu com as duas mãos sobre ela, apoiando-se e olhando furiosamente para Pince. - Eu sou professora daqui de Hogwarts, e acho que tenho direito de fazer o que eu bem entender por aqui. Se estou aqui na biblioteca falando alto, é para ajudar os MEUS futuros alunos, está entendendo?

- Deixe-a, Madame Pince! - Snape se pronunciou, sem sair do lugar e cruzando seus braços. - Existem pessoas que infelizmente ainda não aprendeu a ter bons modos...

"Olha só quem fala...", pensou Rony, que olhou para o rosto do professor, com raiva.

- Bons modos? - a professora ironizou. - Quem é você para me julgar, Snape?

O sorriso malicioso de Snape se desmanchou como se um furacão passasse por ele e o arrastasse em um milésimo de segundo. Aos poucos, seu olhar frio e odioso voltou a se formar, entortando-se novamente.

- Bem, eu vou indo... - a Profa. Lies dizia, enquanto saía pela porta. - Espero que vocês, garotos, façam bom proveito de suas pesquisas! - e deu uma piscadela. - Até mais... Essa biblioteca já me encheu. Até mais, Madame Pince, e obrigada por tudo. Principalmente, devo agradecer o bom tratamento que teve com a minha pessoa.

Snape olhou para Harry e Rony, que estiveram só assistindo essa cena. Realmente, a nova professora de Defesa Contra Artes das Trevas não era digna de se dizer... simpática. Mesmo que ela tenha tentado ajudá-los naquele dia, Snape logo confiscou todos os livros de volta, antes mesmo que algum deles pudesse abrí-lo. Sem autorização escrita, eles não os conseguiriam de volta, e tiveram que se conformarem com a pouca pesquisa restrita que acharam.

Tentaram até correr atrás da Srta. Lies; mas era incrível como as coisas funcionavam: eles nunca a encontravam. Chegaram há vasculhar o castelo inteiro, mas ela só aparecia quando tinha vontade. Nem na hora do almoço ou do jantar ela estava por perto. Achavam todos os professores possíveis, menos ela.

Quando eles se deram conta, faltava apenas dois dias para o período letivo começar. E também perceberam que não aproveitaram nada do que tinham imaginado que poderiam; por todos os lados, haviam professores em cima deles, e Filch, estava bem mais atento do que de costume. Esbarravam com sua gata, a Madame Nor-r-ra milhares de vezes, chegando a deixá-los irritados com toda aquela situação.

A Profa. Lies, as poucas vezes que ela apareceu, geralmente não falava muita coisa; ela só agia quando havia algum professor por perto. Chegou até a chamar a Profa. McGonagall de "bruxa estressada", em outras palavras, é claro, em tom alto e firme, cara a cara, quando esta a provocava com seu jeito sério e calculista. Já zombou de Flitwick, por causa de sua altura e o fato dele ter que usar pilhas de livros para enxergar todos os alunos da classe. Até mesmo Pirraça não escapou dos desaforos dela; Rony até começou a ficar com medo de encontrá-la pelos corredores e tomar um outro fora.

O que eles fizeram de proveitoso em poucas coisas foram os treinos no campo de quadribol, sob a vigilância de Madame Hooch. Como Dumbledore havia dito, eles nunca iriam ficar sozinhos, principalmente se fosse do lado de fora do castelo.

Visitaram Hagrid inúmeras vezes; já que não possuíam mais opções de diversão. Afanaram também muita comida da cozinha, aonde os elfos domésticos os serviam com vontade e sem cerimônia. Dobby estava por lá, e Harry teve bastante paciência para conversar com ele, pois ele só falava em seu trabalho remunerado e as meias coloridas que ele gostava de comprar.

Apesar de todos esses contratempos, os dois nunca tiveram períodos de paz melhores do que este. Não houve nenhum ataque, e nem mesmo, a Profa. Trewlaney previa mortes horríveis de Harry toda a vez que o encontrava. E nem mesmo o mal-humor de Snape os afetaram; muito menos as ameaças de Filch e sua gata.
Mas algo ainda fazia falta para Harry: a resposta de seu padrinho.

Por que Sirius não mandara resposta até então? Já se passou quase duas semanas desde o dia em que a sua carta foi enviada. E até agora, nenhuma coruja, e nem sinal de Píchi. Harry tentava ter esperanças de que nada havia acontecido com Sirius, e que, certamente, Píchi deveria ter voltado para a Toca e entregado à Hermione.

Não adiantava nada. Ele continuava inseguro.

- Relaxa, Harry! - Rony dizia, enquanto eles jogavam xadrez de bruxo no Salão Comunal da Grifinória. -

Hermione trará a carta de Sirius, você vai ver...

Relaxar era a última coisa que Harry iria conseguir fazer. Apenas dois dias, e Hermione estaria ali com eles. E rezava para que ela trouxesse a carta de resposta do padrinho.


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