by YuMi DeAth

 

Capítulo 22 - Inesperado isolamento

Era difícil absorver todas a idéias que foi adquirida através das revelações que lhe foram feitas.

Harry queria voltar apenas para o dormitório e se atirar na cama. Não para dormir, mas para pensar. Tudo era tão impossível e real ao mesmo tempo.

Tão distraído estava que nem percebeu quando um ar frio e gélido transpassou através de seu corpo.

- Harry!

Harry virou-se e deu de cara com Nick-Quase-Sem-Cabeça, o fantasma da Grifinória.

- Olá, Nick! - cumprimentou Harry, desanimado. - Tudo bom?

- Tudo ótimo, meu jovem! - respondeu Nick, endireitando a cabeça que estava quase caindo. - Mas pelo visto, como você não está nada bem, bem...

- Não é nada... - o garoto mentiu. - Estou apenas cansado...

- Eu ouvi alguns gritos vindo lá de cima. - o fantasma afirmou. - Você sabe o que aconteceu?

- Não. - respondeu Harry, indisposto. - Eu estava lá em cima e não ouvi nada.

- Deve ser imaginação minha. Acho que ando meio abalado nesses dias. Sabe, o retorno de Você-Sabe-Quem, todos aqueles ataques... Até a morte do professor de Durmstrang, que esteve aqui ano passado. Até Pirraça anda se escondendo por aí... Não se sente mal com todos esses acontecimentos?

- Bem, eu...

- Harry! - Harry virou-se e viu Rony e Hermione correrem em sua direção.

- Harry, você está bem? - Hermione perguntou. - Ouvimos gritos vindo lá de cima, mas não deixaram a gente passar. Barraram a nossa entrada para as escadas que davam acesso à biblioteca.

- Como assim, barraram? - Harry parecia surpreso.

- Sprout e Flitwick não deixaram ninguém passar. - Rony disse. - Disseram que era assunto dos professores e que nenhum aluno devia se meter.

- Então eu não estou enganado! - Mione e Rony se deram conta da presença de Nick-Quase-Sem-Cabeça. - Houve realmente algum alvoroço.

Harry parou e pensou por um momento. Rony e Hermione ainda aguardavam respostas, que estavam custando para sair. Por fim, Harry disse:

- Não sei do que vocês estão falando. Eu não ouvi nada de estranho, e estava justamente na biblioteca.

Rony e Hermione olharam incrédulos para o amigo, assim como Nick-Quase-Sem Cabeça.

- Me desculpem, mas estou realmente cansado. -Harry mentiu. - Vou me retirar. Até mais para vocês!

* * *

Hogwarts estava bastante enfeitada com diversos ornamentos de Natal. O frio era intenso, e poucos alunos puderam desfrutar da festa natalina da escola.

Nem os presentes que ganhou fez com que Harry se animasse. Ele próprio evitava ficar muito tempo com Rony e Hermione; os dois queriam saber o porquê de tanto repelimento. Mas para Harry, a explicação era a única: não colocar mais ninguém em perigo.

O segredo de Kehara Lies estava em suas mãos; e ele sabia que, se mais gente souber, não estaria pondo somente a vida da professora de Defesa Contra Artes das Trevas em perigo. O que era mais estranho, era que ela própria não aparecia mais durante as refeições; Harry nem sequer a encontrava nos corredores. Era preciso seguir até as masmorras para encontrá-la; e mesmo assim já era difícil.

Harry prometera a Dumbledore, e ao Prof. Snape também, que não revelaria a mais ninguém o que sabia; a vida de Lies era uma informação que deveria guardar para si próprio, em caso de algum perigo.

Snape também estivera oculto durante essas férias de Natal; de vez em quando, ele aparecia no Salão para almoçar ou jantar. Sua aparência estava mais pálida, e era através de enormes olheiras que Harry identificava as noites sem dormir. Na certa, era ele quem estava vigiando o comportamento da Profa. Lies, e tentando evitar que ela entrasse em qualquer tipo de contato com Voldemort.

Rony e Hermione pararam de brigar no Natal; Harry nunca mais ouviu os dois discutindo ou coisa parecida. Hermione estava bastante empenhada na sua função de monitoria, mas como a escola estava mais tranqüila, ela amenizou sua maneira rude de tratar os outros. Dividia a função com Íris Avery, pois as duas foram as únicas monitoras que permaneceram por lá.

Íris também dificilmente era vista caminhando pelos corredores do castelo; Harry notou que ela andava meio esquisita e tensa. Pensou em procurá-la, para tentar obter informações sobre seu pai. Receava que ela também não fosse confiável, e por algum acaso, ele poderia deixar escapar alguma informação a ela que não devia.

Foi o Natal mais monótono e sem graça que Harry já teve em sua vida. Até mesmo no tempo em que ele vivia ainda com os Dursleys, talvez tenha tido um Natal mais agitado. Mesmo a coleção de livros que Harry ganhara dos melhores times de quadribol de Mione não o deixou feliz.

Se antes ele tinha Sirius que o reconfortasse, agora ele não tinha ninguém. Vivera as férias mais infelizes desde o tempo em que esteve em Hogwarts, e tratou todo mundo com uma frieza inesperada.

* * *

Os alunos voltaram para Hogwarts no final de janeiro; a neve ainda cobria os vastos pátios da escola, e mais do que nunca, os professores estiveram em alerta constante.

As aulas foram retomadas, e a Profa. Lies parecia mais disposta. Harry não tinha a visto desde aquele dia na biblioteca. Ela tomou a matéria das Artes das Trevas mais perigosas conhecida, e notou que ela lutava para não chorar ao pronunciar o nome de Voldemort.

Snape estava mais calmo, e durante as suas aulas, não buscava implicar com Harry da mesma maneira que antes. Nem mesmo deu uma detenção a Neville, quando ele explodiu o próprio caldeirão e derramou a poção fervescente na roupa dele. Descontou uns míseros cinco pontos da Grifinória e mais nada.
Rony buscou novas companhias durante a volta; Harry não falava com ninguém mesmo, e quando alguém tentava perguntar o que aconteceu, Harry dava qualquer desculpa que precisava fazer outra coisa e não podia conversar.

Nem Draco fazia com que ele falasse algo; Harry ouvia inúmeras vezes desaforos de Malfoy pelos corredores, e ele agia como se não estivessem falando com ele.

- Olha só: Potter sofrendo uma crise emocional! - Malfoy debochou, arrancando risadas do pessoal da Sonserina. Harry passou direto, e nem sequer tentou responder. Draco ficava indignado, pois não tinha mais graça provocá-lo.

Hermione voltara a ser dura com os alunos, cumprindo a sua monitoria devidamente. Diversas vezes ela tentou conversar com Harry, buscando saber o que acontecia com o amigo.

Durante a aula de Trato de Criaturas Mágicas, Mione ainda analisava os hipocampos recém-nascidos, criaturas realmente fantásticas, e estavam em um amplo aquário fechado. Com a cabeça e a frente de cavalo e o rabo e as traseiras de peixes, poucos ainda eram reconhecidos pela forma; ainda bebês, eram inofensivos para todos os bruxos. Harry estava isolado em um canto, com seus olhos direcionados ao aquário, mas a mente distante. Ela aproveitou a distração do amigo e correu para o lado dele, perguntando:

- O que está acontecendo com você, Harry? Por que está evitando todo mundo?

- Eu não estou evitando ninguém, Hermione. - respondeu Harry, secamente.

- Ah, não? Então me diz, porque se isolou durante todo o Natal e não está se misturando nem com o pessoal da nossa casa?

- Que eu saiba ainda durmo no dormitório da Grifinória. Não estou me isolando de ninguém.

- Rony me contou que Fred perguntou a ele sobre você. Ele disse também que você nem apareceu no treino de quadribol.

- Andei meio indisposto. - respondeu Harry depressa. - E agora, se me permite, preciso fazer as anotações sobre os hipocampos.

Os treinos de quadribol haviam sido retomados logo depois do início das aulas; Dumbledore reforçou a defesa dos limites de Hogwarts, e esperava que as atividades esportivas pudessem recomeçar.

Fred avisou todos do time que logo no primeiro sábado, os treinos recomeçariam. Mas Harry não foi. Não porque ele temia algum outro ataque de Voldemort; ele não estava com cabeça para quadribol.

Desde o acontecimento na biblioteca envolvendo a Profa. Lies, Harry teve pressentimentos terríveis. Os Comensais estavam agindo com tudo; Karkaroff estava morto, Sirius preso, e Lies correndo perigo.

Depois da aula de Trato de Criaturas Mágicas, eles teriam o intervalo de almoço. Harry andou vagarosamente até o Salão, mas desistiu de entrar.

Voltou até a entrada do castelo, e sentou na escada mais próxima. Ali estava vazio, e não havia ninguém que pudesse atrapalhar seus pensamentos. Ele abaixou a cabeça, colocando-as entre os joelhos e fechou os olhos. Tinha vontade de chorar, de sumir, de não existir.

- Harry?

Harry ergueu a cabeça e seus olhos se encontraram com os de Cho Chang.

- Eu posso sentar aí... do seu lado?

A voz dela era doce. Como Harry poderia negar esse pedido? Já fazia tempo que ele não via a apanhadora da Corvinal. Desde que ela se curara do feitiço do pai de Draco, ele nunca tivera coragem para falar com ela; nem mesmo chegar perto dela ele conseguia.

- Er.. Claro... - respondeu Harry, meio envergonhado.

Cho sorriu e sentou-se ao lado dele. Ela olhou para os olhos verdes do garoto e permaneceu assim em silêncio por um breve instante. Harry também não conseguia desviar o olhar da garota, e parecia que, ao lado dela, suas preocupações estavam mais leves.

- Você nunca mais falou comigo depois que eu saí da ala hospitalar, Harry. - Cho quebrou o silêncio. - E eu também, nem fui justa com você. Nem mesmo agradeci direito por tudo que fez por mim naquele jogo de quadribol. Obrigada, Harry!

Harry sentiu suas bochechas corarem.

- Mas eu não fiz nada... - ele disse, desajeitado. - Quero dizer... quem a curou foi a Profa. Lies... - e Harry tapou a boca imediatamente. Não era para ele comentar nada sobre a Profa. Lies. Mas, Cho não se importou, e apenas disse:

- Mas ela não estava presente como você estava, Harry!

- Como?

Cho encarou-o ternamente e, sem perceber, Harry a viu segurando a sua mão. Um avassalador sentimento percorreu pelo seu corpo pelo gesto inesperado dela. Surpreso, ele admirou a beleza da garota: seus olhos escuros puxados, seus cabelos lisos e sua expressão meiga. A vontade de Harry era de abraçá-la, mas ao mesmo tempo, ele sentia-se reprimido, com receio de qualquer movimento seu.

- Eu conversei com Íris esses dias... - ela confessou, sem soltar a mão dele.

- Íris?

- Sim. Ela me disse que você me visitava todos os dias, quando ainda estava inconsciente.

Harry respirou fundo.

- Ela tem me ajudado bastante. - continuou Cho. - Eu perdi bastante coisa nesta época. E durante os meus estudos com ela na biblioteca, ela me aconselhou procurá-lo.

- Ela mandou você me procurar?

- Eu estava realmente pensando em fazê-lo. Em casa, durante as férias de Natal, eu refleti e vi que agi muito mal em não ter o procurado antes. Mas quando voltei, eu vi que você andava se isolando das pessoas. Achei que fosse por minha causa.

- O quê? - Harry ficou surpreso. - Não, não é por causa disso...

- Harry, eu sei que você deve estar com muitos problemas. Deve ser por isso que está evitando todo mundo.

- Não, Cho, eu estou bem, eu...

- Não precisa me dizer quais são. - Cho segurou a mão de Harry mais firme. - Não estou aqui porque eu quero saber o que está acontecendo com você. Ah, e não se preocupe; não foi nenhum de seus amigos que me mandaram aqui.

- Eu não estou dizendo isso, eu...

- Harry! - exclamou a garota. - Não tente desmentir. Eu ainda o observo sempre, e vejo que há algo de errado em você. Seus amigos estão bastante preocupados. Eu estou preocupada. Nunca mais você me olhou como antes!

Harry ergueu as sobrancelhas.

- Não fique assim. - Cho o abraçou inesperadamente, deixando-o sem reação. - Apenas peço para esquecer os problemas, sejam lá quais forem. Seus amigos querem ajudá-lo, mas você os despreza. Não faça isso, Harry. Por favor, vamos almoçar.

- Não estou com fome. - Harry conseguiu dizer, mesmo com Cho aos seus braços.

Cho ergueu seu rosto. Seus olhos se encontraram com o de Harry. Meio desajeitado, o garoto desviou, olhando para os lados. Sentiu sua face arder e engoliu seco.

- Não minta para mim! - ela disse, suavemente. Com uma das mãos, ela segurou o queixo de Harry e trouxe o seu rosto para a sua frente. Harry podia sentir a respiração dela; seu corpo se arrepiou, e ele sentiu algo estranho. - Mesmo que você não esteja, poderia sentar ao lado de seus amigos.

- Eu gostaria de sentar ao seu lado e conversar com você! - Harry disse sem perceber. Quando se deu conta do que acabara de falar, ele fechou os olhos e xingou a si mesmo. - Quero dizer, eu...

"Pronto, Harry! Você conseguiu estragar tudo!", ele pensou. "Cho nunca mais vai querer falar com você pelo seu atrevimento."

Ao contrário do que ele imaginava, Cho sorriu. Ficou sem graça, pelo o que se dava para perceber, mas respondeu:

- Tudo bem, Harry. Você pode sentar comigo.

- Não, eu estava... brincando! - Harry disse depressa.

Cho pareceu desapontada. Harry viu que ela o largou, e ele mais uma vez, se sentiu um idiota. Achou que deveria ter aceitado o convite, mas o que fazer numa hora dessas?

- A gente pode se encontrar na biblioteca... - Harry falou a primeira coisa que lhe veio à cabeça. - Sabe, esse ano eu vou prestar os testes dos N.O.M's. E... como você já prestou ano passado, eu gostaria que você me ajudasse a.... estudar!

Se Hermione tivesse ali, ela daria risada da situação.

- Quero dizer... - continuou Harry, sem olhar para a garota. - Se você tiver tempo...

- É claro que sim! - ele a ouviu dizer. - Hoje mesmo, depois do segundo período de aulas, a gente pode se encontrar na biblioteca.

- Ok. - Harry sorriu para ela. - Às seis horas, pode ser?

- Fechado! - Cho estendeu a mão para Harry, que a cumprimentou. - Bem, daqui a pouco o horário de almoço vai terminar. Não quer passar no salão para pegar alguma coisa?

- Quero sim! - respondeu Harry, agora animado. - Ainda tenho Defesa Contra Artes das Trevas essa tarde, e não acho legal eu assistir uma aula dessas de estômago vazio.

- É verdade. Mas se você estivesse no sexto ano veria como as aulas da Profa. Lies estão pesadas.

- Sério mesmo?

Harry e Cho riram. Os dois entraram no Salão, ainda conversando e trocando idéias das aulas que tinham. Depois do almoço, cada um seguiu o seu caminho. Harry foi até as masmorras, um pouco mais amável com os amigos. Rony e Hermione ficaram se perguntando o que tinha acontecido, até Lies entrar na sala. Harry não via a hora da aula de Defesa Contra Artes das Trevas terminar.

 


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